quarta-feira, fevereiro 09, 2005

Dependência

Tinha tido uma infância muito difícil.


Filho de pais separados e em nada deles dependente. Aliás, se deles
dependesse o seu crescimento, não estaria vivo ainda hoje.


A casa onde brincava (apesar do lixo que ocupava o soalho) fica nos arredores da cidade. Foi ali que passou os primeiros anos da sua vida, ajudou a criar os irmãos, dos quais agora nada sabe; amou e odiou uma mãe que nunca conheceu separada das drogas; e foi também ali que a encontrou morta um dia.



No dia em que a morte lhe levou a mãe querida e odiada, ele fugiu. Despediu-se dos pequenos irmãos, juntou algumas doses de cocaína que guardou num saco junto com uma sandes bolorenta e uma maçã, e saiu deixando a porta encostada. De uma
cabine telefónica ligou para as emergências e seguiu o seu caminho... nunca mais
ouviu falar da sua mãe...nem nunca ninguém o procurou.



Naquele dia, ele sentiu mais do que nunca que estava entregue a si mesmo e que nem as doses que trazia na mala o iriam ajudar; Aliás,ele nunca percebera no que poderiam ajudar aqueles pozinhos à mãe, que deles parecia ter dependido desde sempre.



Soube que, a partir daquele instante, a sua sobrevivência só dele dependia. Pois, nem nas histórias os pozinhos de perlimpimpim valiam às fadas e às princesas...quanto mais a ele (sozinho e perdido) na vida real.