sexta-feira, agosto 19, 2005

"O Velho"

"Apanha do chão a beata meia e tenta acendê-la com um isqueiro sem gás...
...sem êxito. Procura no saco de plástico que trás consigo uns fósforos que não encontra; Olha em volta mas não pede lume...
...a voz não sai. Esfrega os olhos pois, talvez assim, a visão que se vai perdendo regresse por alguns instantes; Volta a pegar no isqueiro, cuja pedra já está gasta de tanta tentativa...
...mas não desiste de tentar.”


Esta Lisboa (que eu amo, diria o fadista) está cada vez mais pobre, dizendo isto no sentido literal da palavra.
Ao caminhar pela rua tropeço em cada esquina com alguém que pede esmola. Bem sei que mendigos existem aos molhos, sei que muitos deles podiam fazer a vida a trabalhar e sei também que nem sempre os ajudo mas entristece-me o simples facto de me cruzar com eles.
Pode parecer uma hipocrisia falar desta forma sobre o assunto mas, situações como a descrita em cima, apertam-me demasiado o coração... (tal como a letra d’O Velho, da Mafalda Veiga)
Entre tanta gente que pede: crianças e mulheres de leste, pessoas com deficiências ou doentes, as que mais me tocam são mesmo os velhos; Estes reúnem na sua pessoa as características de todos ou outros: vivem como emigrantes (num país do qual não se sentem filhos), são postos de parte (como se a velhice fosse deficiência) e padecem sempre da doença solidão.
Para eles, sobrepõe-se à necessidade de dinheiro, comida ou tecto (ou álcool e tabaco) o desespero pela companhia que nunca tiveram ou que, com o passar dos anos, se perdeu. Têm apenas como amparo o frio ou o calor das ruas, por vezes um amigo de quatro patas (também ele deixado à sua sorte) e caminham sempre sem direcção alguma...aos olhos de todos mas, na maior parte das situações, por todos ignorados.
O silêncio em que vivem é tão grande que até o próprio nome esquecem. Ninguém o sabe, nem se esforça em perguntar...serão sempre o “sem-abrigo”, o mendigo, o bêbado ou o Homem-Que-Diz-Adeus. Enfim... que lhes importa chamarem-se Manuel, João, Joaquim, quando o nome em nada influencia a luta diária por um pedaço de pão? (ou um abraço amigo?)

Passo por eles e entristeço-me... Onde pára o sonho de uma velhice descansada para estas pessoas?

É justamente esse o problema: Para muitos, não passa de um sonho.”

3 Comments:

Blogger Ana Santos said...

Olá,
detesto quando vejo alguem escarneçer dos velhotes.
tambem sinto uma certa empatia pelas pessoas idosas, tal como sinto pelos mais novinhos.
beijinhos,
ana e tesourinho

domingo, 21 agosto, 2005  
Blogger S.A. said...

Também "morro" qdo vejo isso...

sexta-feira, 26 agosto, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Já pensáste alguma vez...

... que eu vivo assim por opção e renuncia à sociadade, não me identifico com nenhuma dessa gente podre e presa no seu proprio mundo, cega para ver os verdadeiros males deste país, presas à missão "formiguinha" incutida pela "democracia" dos diabos que nos guiam.
Tenho tudo para viver, e viver descansado!

Ass: "o sem abrigo"

quinta-feira, 02 fevereiro, 2006  

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